


Desde a chegada da Vale, o comércio local de Tete se desenvolveu muito. É comum ouvir as pessoas que chegaram há mais tempo comentar: “Vocês que estão chegando agora tem sorte, agora tudo está mais fácil”. E realmente não posso reclamar, não passo vontade de comer quase nada, porque a maioria dos ingredientes achamos nos supermercados que abriram recentemente. Para a população local, se analisarmos com um olhar otimista, eles estão tendo acesso a produtos e novidades que nem poderiam imaginar. Contudo, como existe uma forte demanda dos trabalhadores vindos de outras partes, os preços chegam a ser abusivos e pouco acessível.
Assim, a população continua a utilizar o comércio local. E o comércio local significa estender um pano ou lona próximo a beira da estrada e colocar o produto a venda. Para quem quer maior variedade, há um mercado público, chamado de Kwachena (lê-se Cuatchena) . Nele, pode se encontrar de tudo: roupas usadas (chamadas de roupas de calamidade, pois são recebidas como doação de países de primeiro mundo, mas acabam em mãos erradas e sendo vendidas), frutas, legumes, carvão, comida, ervas medicinais e principalmente uma admirável felicidade.
O lugar não é atraente, tampouco bonito, mas quando eu falo em admirável felicidade, falo de pessoas sofridas que sorriem diante de uma máquina fotográfica. A primeira vez que fui ao Kwachena fui com um olhar de turista e uma máquina na mão e fiquei impressionada com as pessoas me abordando para tirar uma foto delas… Elas fazem pose, abrem o sorriso e depois pedem para ver a foto, e dai ocorre um momento mágico e contagiante: elas riem e se encantam com a própria foto…
Abaixo algumas fotos marcantes que peguei de uma colega e que valem a pena o registro!
Cape Point
Cape of Good Hope
Reserva de Pinguins
Camps Bay
Table Mountain (eu amo essa foto!!)
Waterfront
Desde que comecei a escrever o blog, ficava sempre na dúvida se poderia falar algo mais específico da minha atividade, contudo, participei de um evento que vale a pena ser registrado…
O evento de celebração do Dia do Idoso e do Dia do Coração, que ocorreu no dia 1 de Outubro (foto ao lado de 2 colegas de trabalho), foi uma das atividades que realmente me fez sentir num intercâmbio e perceber que diferenças culturais existem e são gritantes. Basicamente, a ideia do evento era realizar algumas praticas esportivas (caminhada e ginástica) e depois uma feira de saúde, com local para fazer doação de sangue, fazer teste de HIV e explicando como fazer uma mistura nutricional, como escovar os dentes, etc...
Até ai tudo bem, uma atividade como outra qualquer. Minha surpresa foi quando os cargos políticos da cidade começaram a fazer discurso sobre o assunto. Primeiro, eles evocam o nome de todos que estão no palanque (por volta de umas 7 pessoas) e todos que fizeram os discursos tem que evocar. Segundo, eles falam data e colocam o motivo do evento… de novo, todos fizeram isso… Dai realmente começa o discurso e lá vem as pérolas:
“ Todas as pessoas tem idosos na família… pessoas com mais de 50 anos devem ser respeitadas como idosos. Trabalham uma vida toda e com 50 anos querem paz, por isso os filhos devem acolhe-los em suas casas.” Como assim??? 50 anos idoso?? Filho ajudando?? No Brasil isso seria uma ofensa das piores….
E dai continua… “O pior são as pessoas que pensam que os idosos viram feiticeiros e começam a querer matar os filhos. Essas pessoas são ingratas, não sabem o que esses pobres já passaram. Apesar de ouvirmos casos de feitiços realizados por idosos, isso não é regra.”
Não satisfeito com isso, ainda falaram do coração e da necessidade de se fazer esporte: Aqui é difícil as pessoas praticarem algum desporto… se a gente vê alguém a correr na rua, logo pensamos que é ladrão!! Na hora só consegui pensar o que um moçambicano na Noruega iria achar das pessoas que saem correndo na chuva e na neve…
Idosos comendo a mistura nutricional... e é claro que eu não resisti em também experimentar!