sábado, 9 de agosto de 2014

Praia de Savane

Esse passeio, no final de semana de 26 de novembro de 2012, foi o que eu posso chamar de uma aventura não programada. Após quase 10 horas de viagens devido a alguns imprevistos na estrada, chegamos (eu e a Ana Cláudia) a cidade da Beira, na província de Sofala. Eram 6h00 da manhã e vimos um nascer do sol que prometia um dia maravilhoso... 


Passamos na casa da Priscila que foi uma fofa nos hospedando, tomamos um café e pé na estrada novamente... No caminho para a praia encontramos diversos babuínos. Achei curioso essa mistura de África com praia. A praia de Savane situa-se a menos de 60 minutos da cidade da Beira. Neste ponto particular da costa marítima de Moçambique, o Oceano Índico se funde harmoniosamente com o Rio Savane. A sensação de ter chegado em um lugar mais isolado do mundo começa logo à entrada, onde é necessário deixar o carro e seguir a pé.

Caminhamos com as pessoas da comunidade até o local onde pegamos um barquinho que fazia a travessia de cerca de 15 minutos entre as margens do rio e a ilha.

Travessia no Rio Savane até o barquinho
A população local fazendo a travessia 


Chegando em Savane, fiquei um pouco perdida, pois de um lado tem rio e do outro tem mar. Paga-se um valor de 100 meticais para passar o dia na ilha. Caminhando um pouco, chegamos a uns quiosques em frente a beira do mar, onde ficamos tomando sol.



No local há um restaurante e lodge para dormir, mas optamos por voltar para Beira. Ainda conseguimos ver o por do sol no centro da cidade e depois comemos uma pizza.


No domingão, acordamos cedo, passamos no supermercado para abastecer a dispensa para o Natal com milho verde e bacalhau e pé na estrada...

"Volta teu rosto sempre na direção do sol, e então, as sombras ficarão para trás." Sabedoria oriental

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Zambia, verdadeiramente um National Geographic

Sabe aqueles programas da National Geografic ou Globo Repórter que mostram os animais selvagens da Africa? A viagem para Zâmbia foi simplesmente assim... Por isso, o início desse post vai ser estilo narrativa de televisão...


Semana anterior à viagem: Começaram os preparativos... Troquei óleo do carro, comprei novos pneus, acertei tudo para que o meu pajeirinho estivesse inteiro para encarar 550 km de estrada (somente ida).

7 de setembro 
4:30 a.m: 32 pessoas, 9 carros iniciam a viagem, saindo do Condomínio Vale dos Embondeiros - Tete

7:00 a.m: 230 km completados, primeira parada na fronteira Moçambique - Zâmbia.

10:00 a.m: 320 km completados, segunda parada no posto para abastecer

13:00 p.m.: 10 horas depois, chegamos ao Mushroom Lodge - Mufze - Zâmbia. Diversas surpresas na chegada... Elefantes, macacos tranquilamente andando em um vale próximo da entrada


Entrada do Parque Nacional de Luangwa
13:30 p.m:  Almoço e reconhecimento do hotel

16:00 p.m:  Início do primeiro Safari

Foram 4 safaris incríveis em busca dos "Big 5". O termo "Big 5" refere-se aos seguintes animais africanos: leão, leopardo, rinoceronte, elefante e búfalo. Por que não o hipopótamo ou a girafa, você pode estar se perguntando... Bem, esse termo foi criado por caçadores predatórios, nos anos 1880, que consideravam esses animais mais difíceis e perigosos de serem caçados, e consequentemente mais valiosos. Atualmente, ele é utilizado por guias turísticos como uma forma de atrair a atenção dos turistas para a procura desses animais durante os safaris...

Quer saber, deixa as fotos falarem a partir de agora....

Prontos para a aventura!!!
As zebras são incríveis

Primeiro animal que avistamos, deu até vontade de chorar de emoção





Primeiro Big 5 - Elefante


Jipe para a aventura


Manada de elefantes cruzando o rio que estava em época de seca

Búfalos selvagens (Segundo "Big 5")

Privacidade que nada, eles querem é se divertir



Relaxando no SPA de um hotel próximo, ao som dos hipopótamos


Surpresa no hall do hotel do SPA, acho que nunca mais vou ficar tão perto de um animal selvagem assim

Somente no terceiro safari que vimos as leoas descansando...

... e o rei da floresta bem atento (Terceiro "Big 5")

Mas o auge do passeio foi o leopardo que desfilou imponente (Quarto "Big 5")

Faltou apenas o rinoceronte que já sabíamos que não encontraríamos naquela reserva, mas cada um dos animais foi incrível e com gostinho de quero mais!


“Is it possible to know the truth without challenging it first?” 

 National Geographic Society




quarta-feira, 2 de julho de 2014

Malawi: lá tem lago ou tem mar?

A viagem ao Malawi foi marcada por um mix de tristeza e homenagem. Exatamente uma semana antes de viajarmos um grande amigo e vizinho que iria conosco na viagem faleceu de uma forma inexplicável. Pensamos em desistir, mas sabíamos que se ele estivesse entre nós, nada faria mudar os planos... Então esse post, dois anos após a viagem é dedicado a ele...
Alugamos um carro e 3 horas da manhã do dia 23 de junho de 2012 já estávamos na estrada... Pegamos um caminho errado e algumas barreiras policiais que dificultaram. Acabamos pagando uma multa e seguimos viagem para encontrar algo muito curioso: ambulantes vendendo espetinho de rato na estrada...

Vai um espetinho de rato?
Logo que passamos a fronteira resolvemos por curiosidade trocar algum dinheiro em moeda local. Como a moeda é desvalorizada, apenas 100 USD rendeu um bolão de notas.

Malawian kwachas
Depois de cerca de 10 horas, alguns caminhos errados, chegamos ao nosso destino: Cape Maclear, no Malawi... Ufa e como valeu a pena! Ficamos hospedados no Cape Mac Lodge (www.capemaclodge.com), um lodge fofinho, administrado por uma francesa, que está localizado nas margens do lago...


Jardim do lodge com vista para o lago

O Lago Malawi, ou também conhecido lago Nyassa,  está localizado entre as fronteiras do Malawi, Moçambique e Tanzânia. É o terceiro maior lago da África e o segundo mais profundo da África. Também é o nono maior do mundo. 
O fim de tarde no primeiro dia nos reservou um pôr do sol tranquilizador...

Não parece praia?

Quem me conhece já sabe, viajar comigo significa acordar cedo para aproveitar o máximo possível! Então no domingão, as 8h30 já estávamos em um barco rumo à uma ilha que reservaria algumas surpresas...
A primeira delas foi esse malawiano em cima de uma pedra, apenas observando a paisagem... Quanto equilíbrio... O que será que ele estava pensando? Certamente algo pouco preocupante... As pessoas que meditam acreditam no vazio da mente... 



Nossa segunda surpresa foi uma parada para ver águias "treinadas"...O nosso guia jogava peixes na água e elas saiam dos picos das morros em um voo rasante para pegá-los ...  O vídeo explica melhor como foi.





Após ver as águias, paramos numa ilha, no qual pudemos nadar e almoçamos peixe assado na hora pelo guia local...

Parece pouco higiênico...
... mas foi um dos peixes mais deliciosos que já provei!
Também pude pegar um peixe na mão, resultado da agilidade do guia...


O título do meu post, lá tem lago ou tem mar, pode ser respondido pela foto maravilhosa abaixo. O lago não tem cor de lago, tem um tom azulado e cheiro característico de mar...


Depois do passeio, voltamos para contemplar um fim de tarde mais espetacular do que o do dia anterior... Acredito que ainda vai demorar muito para eu ver e sentir algo similar ao que foi....Olha a inocência dessas crianças lindas que tocaram e dançaram para a gente...




Algumas fotos....

Uma homenagem aos meus pais





"When I get older I will be stronger


They'll call me freedom, just like a waving' flag"






quinta-feira, 22 de maio de 2014

A história da minha tatuagem, uma homenagem as mulheres africanas

Na semana passada recebi um e-mail perguntando seu eu poderia contribuir com um blog da escola de inglês que estudei no início desse ano. Claro que eu posso! Eu sempre amei escrever... Comecei a refletir sobre o que escreveria e acabei me dando conta que não atualizava o meu próprio blog há muito tempo... 
No meu primeiro post (5 de janeiro de 2011), eu disse o seguinte em relação a iniciar um blog: "Pensei em mil razões de por que fazer isso... talvez para mostrar para os meus amigos fotos e vídeos, ou para a família de que eu estou bem e me comportando, ou simplesmente para eu ter um registro de uma experiência que eu sei que de alguma forma vai me modificar..." E lendo esse primeiro post, tenho certeza que escrever no blog não é por um modismo, mas por um prazer de registrar coisas que eu vivi e que futuramente não irei me recordar.
Fiz uma lista de 10 posts (esse é o primeiro cronologicamente) que eu ainda gostaria de escrever e que nos próximos dias irei dedicar algumas horinhas para cada um deles:

1)      Malawi: lá tem rio ou tem mar?
2)      Zambia, verdadeiramente um National Geographic
3)      Praia de Savane
4)      Família na África: Johanesburgo, Sun City e Pilanesberg
5)      Ile Mauricie: praias paradísiacas, cultura exótica e luxuosos resorts
6)      Estados Unidos, porque Hollywood merece um post
7)      Songo, Casindira Lodge e Moringa Lodge
8)      Victoria Falls: um patrimônio da humanidade na África
9)      Cape Town, um belo início para 2014

Bom vamos para o post propriamente dito: A história da minha tatuagem, uma homenagem as mulheres africanas.

Sempre tive vontade de fazer uma tatuagem, mas certa vez ouvi de uma colega de trabalho a seguinte frase: "não adianta você ficar procurando por uma tatuagem perfeita, pois não é você quem vai decidir a tatuagem, é ela que escolherá você." Eu sempre fiquei com isso na cabeça, até que cheguei em Moçambique e me apaixonei pelos embondeiros. Embondeiro, imbondeiro ou baobá, nomes diferentes para descrever esse árvore que é símbolo de vida em terra seca.

"É enorme. E o largo tronco desproporcionado assenta em raízes grossas que se afundam poderosamente sugando o que será depois folhagem pequena e frutos para usar no caril. Quando se passa parece que se evola do vegetal gigante uma aura tranquila e protectora. Como se nos visse e nos cedesse um mínimo da sua alma de tempo. Os nativos consideram os embondeiros árvores sagradas. Acontece verem-se presos aos troncos rectângulos de pano branco e logo abaixo no chão uma tigela com oferendas - em lembrança de alguém. Não se cortam ramos de embondeiro para a fogueira. Apenas os frutos são colhidos porque no alimento haverá comunhão com a árvore." (Glória de Sant' Anna, poeta portuguesa que viveu grande parte da sua vida em Moçambique, em seu poema Ao Ritmo da Memória).

Duas colegas de trabalho, que também amavam embondeiros, resolveram fazer tatuagens da árvore. Não gostei, parecia que tinha uma árvore de terror só com os galhos. Um embondeiro precisava de mais... Foi quando pesquisando pela internet achei a ideia que precisava:




Uma mulher com o cabelo de embondeiro... essa a representação perfeita do que eu queria expressar: a força e coragem da mulher Moçambicana e a admiração pela árvore que para mim é símbolo de Moçambique. Fiz outras procuras e dois desenho complementaram a ideia.












No dia 28 de dezembro de 2011, fui com a minha grande amiga, comparsa e fotógrafa Ana Bia Aguilar fazer a tatuagem.

Início da tatuagem, o local onde fiz se chama Artink

Não tinha mais jeito de fugir, faltava apenas colorir

Processo finalizado
Assim que vi a tatuagem finalizada tive 2 pensamentos: 1) Amei; 2) É muito grande! O segundo logo esqueci quando me falaram: Você não é pequenininha para ter uma tatuagem pequena, ela está ideal para você! Esse post poderia terminar aqui, se não fosse um livro que me emprestaram e que aumentou a minha admiração pela garra da mulher moçambicana. O livro se chama Niketche, e sua autora é a moçambicana Paulina Chiziane. O livro conta a história de Tony, um alto funcionário da polícia e sua mulher Rami, casados há 20 anos. Certo dia, Rami descobre que o marido é polígamo: tem outras 4 mulheres e vários filhos. As esposas de Tony estão espalhadas pelo país. Numa decisão surpreendente, Rami decide ir atrás das mulheres do marido. O romance retrata a busca de Rami como uma incursão pelo desconhecido e uma tentativa de lidar com a diferença, simbolizada pelas amantes do marido. Poderia tentar explicar mais, mas prefiro deixar 3 trechos do livro para reflexão....

Cartaz da peça baseada no livro

"Não sou possessiva. Venho de uma terra onde a solidariedade não tem fronteiras. Venho de um lugar onde se empresta o marido à melhor amiga para fazer um filho, com a mesma facilidade com que se empresta uma colher de pau. Na minha comunidade o marido empresta uma esposa ao melhor amigo e ao ilustre visitante. Na minha aldeia, o amor é solenemente partilhado em comunhão como uma hóstia. O sexo é um copo de água para matar a sede, pão de cada dia, preciosos e imprescindível como o ar que respiramos." (página 83)

"Andei de casa em casa, de boca em boca. Fiz uma sondagem de opinião à volta da minha história. Perguntei às mulheres: o que acham da poligamia? Elas reagiram como gasolina na presença de um pavio aceso. Explosão, chamas, lágrimas, feridas, cicatrizes.  A poligamia é uma cruz. Um calvário. Um inferno. Um braseiro. E cada uma conta sua história, trágica, fantástica, comovente. Pergunto aos homens: o que acham da poligamia? Escuto risos cadenciados como o gorjear das fentos. Vejo sorrisos que esticam os lábios de orelha a orelha. As glândulas salivares entram em acção como se estivesse a servir um manjar de agradável paladar. Há aplausos. Poligamia é natureza, é destino, é nossa cultura, dizem. No país há dez mulheres por cada homem, a poligamia tem que continuar. A poligamia é necessária, as mulheres são muitas." (página 104)

"- Ah. vocês, mulheres do sul! - diz a Saly com sorriso sarcástico. - Ter filhos de pais diferentes não é fraqueza. Antes pelo contrario, uma mulher assim amou muito e foi amada. É experiente. Teve a sorte de ser desejada por muitos, a vida é feita de tentativas, falha aqui, acerta ali, qual é o problema?" (página. 174)