terça-feira, 1 de maio de 2012

Quando nada deu certo e tudo foi maravilhoso...

Post longo, mas carinhosamente escrito para os meus futuros netos... 
Ano passado, minha Páscoa foi inesquecível, pois fiz uma road trip que vai ficar para a história. Esse ano estando no meio do nada na África não tinha muitas expectativas... na Sexta-feira Santa a empresa trabalhou até meio-dia e como eu tinha que repor algumas horas trabalhei até as 18h... Na saída peguei carona com um amigo que estava planejando fazer queijo no final de semana (coisa de mineiro) e ele quis procurar um lugar que vendesse leite. Paramos numa comunidade e encontramos um garotinho que vendia... eu adorei a recepção das crianças que jogavam bola em um campinho e no dia seguinte, 6:00 da madrugada lá estava eu de volta à comunidade com 150 pães para doar. Contudo, dessa segunda vez, a recepção não foi a das mais amigáveis e não senti vontade nenhuma de doar aqueles pães... Resolvemos então que guardaríamos o pão para dar em outro local...
Faz uns 2 meses que comprei um carro com os meninos que moram comigo, mas nunca tinha colocado o carro na estrada, devido a diversos fatores extras... O carro é uma mini-van branca, com 7 lugares e bastante parecido com o que tinha nos Estados Unidos. O programado para o final de semana era de lotarmos o carro para irmos ao Songo (Songo é um destino que merece um post a parte e que virá em breve)... Na hora de sairmos 4 das 7 pessoas desistiram, mas os que não desistiram estavam partindo para uma aventura que é a tipica situação no qual eu vou contar para os meus netos...
Tudo pronto e pé na estrada, pois queriamos chegar antes do sol se por. Depois de mais ou menos 30 minutos de viagem, o carro começou a fazer um barulho estranho e tivemos que parar, do motor saiu fumaça e percebemos  que era um vazamento de óleo. Paramos o carro próximo de uma comunidade e logo viramos atração. A comunidade se chama Capinga.  As crianças cercaram o carro e começaram a nos olhar, investigar... foi ai que o pão pouco desejado pela manhã voltou a tona e fez a alegria das crianças... Não sei dizer ao certo em que momento a irritante espera por um mecanico se tornou um dos momentos mais especiais que tive desde que cheguei na Africa... Conduzidas e instigadas por uma pessoa especial com o dom de encantar as pessoas, as crianças se sentiram a vontade para brincar de roda, cantar e até ouvir a história dos 3 porquinhos traduzida simultaneamente do português para o nhungue (dialeto local)...



Tiramos muitas fotos da crianças (eles amam) e partimos com a promessa de que voltariamos em breve com uma bola de futebol para eles poderem brincar.

Bom, o Domingo de Páscoa tinha tudo para ser melancólico, mas mais uma vez os amigos fizeram dele mais um dia inesquecível... O plano de ir para o Songo já tinha furado, então por que não irmos comer em um restaurante na fronteira do Malawi? Pé na estrada e dessa vez com uma companhia extra de uma moçambicana adorável... O restaurante era em um lugar calmo próximo ao Monte Zobuè e o cardápio do meu almoço de Páscoa foi gazela, cordoniz (ou codorna), batata frita e chima. A chima, comida típica de Moçambique, que é uma espécie de angu, deve acompanhada de molho de tomate e comida com a mão. Poderia ser apenas um almoço com o cardápio um tanto exótico, mas por mais uma vez nesse final de semana me permiti fazer algo novo... Vi a moçambicana se deliciando comendo com as mãos e resolvi fazer o mesmo. Não foi facil e precisei pedir umas dicas, mas a liberdade que se tem ao comer com as mãos é uma sensação inexplicável, que não necessita de julgamentos.




O post não acaba por aqui... No final de semana seguinte (13 e 14 de Abril) passei rapidamente pelo Brasil para a formatura da minha irmã, que por sinal encheu a irmã mais velha de orgulho... Almoço com direito a churrascaria e muito amor da família!
No Sábado, 21 de abril, o show tinha que continuar... O meu carro me deu um pouco mais de dor de cabeça, mas não nos impediu de voltarmos a Capinga. Montamos um vídeo alternando cenas do filme do Rei Leão, Era do Gelo, Três Porquinhos, Michael Jackson com fotos das crianças; compramos uma caixa de som; pegamos emprestados um projetor e um gerador e compramos pão. Nossa proposta: Cinema na comunidade... E foi mais um daqueles momentos que não consigo descrever, mas que marcaram na minha experiência na Africa, um ato simples, uma gratidão à aquelas pessoas que estavam ali para ser divertir e que nos geraram uma satisfação inigualável.


Para finalizar, uma poesia linda do autor Moçambicano Mia Couto... Para Ti:

Foi para ti que desfolhei a chuva 
para ti soltei o perfume da terra 
toquei no nada 
e para ti foi tudo 

Para ti criei todas as palavras 
e todas me faltaram 
no minuto em que talhei 
o sabor do sempre 

Para ti dei voz 
às minhas mãos 
abri os gomos do tempo 
assaltei o mundo 
e pensei que tudo estava em nós 
nesse doce engano 
de tudo sermos donos 
sem nada termos 
simplesmente porque era de noite 
e não dormíamos 
eu descia em teu peito 
para me procurar 
e antes que a escuridão 
nos cingisse a cintura 
ficávamos nos olhos 
vivendo de um só 
amando de uma só vida...




2 comentários:

  1. Fabi!
    Lembro perfeitamente do nosso último encontro, no final de 2010. Minha palavras foram algo do tipo: você é surpreendente!
    Após ler este post, sinto a necessidade de adicionar mais um adjetivo à esta maravilhosa pessoa que você é: INSPIRADORA!
    Beijos!
    Jun Onoda

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  2. Funciona mais ou menos assim... Ler esse post, lembra muito uma amiga que conheci no colégio, chama ela Fabi Esper lembra dela? Pastoral , ajudar o mundo, e viver isso intensamente.
    Amiga querida, ler esse seu texto, me fez chorar de alegria,saudade e de orgulho. Orgulho que vc não desistiu de mudar o mundo!
    Amiga que Demais admiro sua coragem e seus sonhos!
    Um grande beijo
    Jú!

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